CAPITULO VII
Gaston narrando.
Fiquei a noite inteira praticamente pensando em Cande, não dormi um
segundo, cochilei um pouco pela manhã, mas não foi o suficiente pra matar o
sono, levantei, tomei café, vi um pouco de TV e acabei adormecendo no sofá.
Acordei por volta de 14h, fui ao banheiro pra lavar o rosto quando ouvi baterem
na porta, quando a abri, eu não sabia que reação ter, era Cande, fiquei
assustado, surpreso, feliz, com medo, tudo ao mesmo tempo.
-
Oi... – falou dando um
sorrisinho, ficava mais linda que o normal quando estava tímida.
-
Cande... – falei ainda
assustado, depois de um tempo sorri deixando a felicidade escapar – entre –
disse dando passagem pra ela entrar.
-
Ta bem – sorriu,
respirei fundo enquanto fechava a porta – Gas eu... – quando a ouvi ia me
virando, mas ela parou de falar.
-
Sim? – falei após me
virar, engoli seco esperando ela terminar de falar.
- Gas... Não dá pra
gente se ver denovo e fingir que nada aconteceu, e não dá pra fingir que eu não
te deixei aqui plantado e sai correndo, e eu queria me desculpar – abaixou a
cabeça, eu todo nervoso porque a beijei e ela veio se desculpar porque saiu
correndo.
-
Eu sei, e você não tem
que se desculpar, eu que tenho, eu que te... Beijei – nessa hora ela me olhou,
estávamos os dois bem envergonhados.
-
Mas mesmo assim eu me
sinto culpada e eu trouxe isso pra você – ela pegou uma pasta que estava em um braço
só e segurou com as duas mãos, fiquei curioso – são umas partituras que eram da
minha mãe, são raras, especiais, e merecem mais ser usadas do que ficar mofando
no fundo de uma gaveta velha – riu
-
Cande eu agradeço, mas
não precisa, eram da sua mãe, eu sei que é difícil – falei sorrindo, imagine,
não podia tirar algo importante pra ela.
-
Mas pra que deixa-las
guardadas juntando pó se... Tem um ótimo pianista que mora na frente da minha
casa que pode fazer bom uso delas, e que eu confio pra cuidar bem, assim como
minha mãe cuidou?
Eu sorri, eu fiquei sem palavras, cada silaba que saiu da boca dela me
fez me sentir muito especial, e aquilo que eu sentia por ela cresceu ainda
mais.
-
Aceita por favor –
falou sorrindo, estendendo as partituras pra mim.
Eu abaixei a cabeça e respirei fundo, porque eu tive vontade de
beijá-la e não podia fazer aquilo de novo, ela ficaria tímida e ai nem voltaria
pra esclarecermos tudo assim como ela estava fazendo.
-
O que foi? –
perguntou, acho que ela estava me olhando.
-
Cande... – a olhei –
sempre que eu estou com você, sempre que conversamos, eu sinto algo estranho,
não sei, alguma coisa que me faz sentir muito bem, aqui – coloquei a mão no
peito, do lado do coração, estava batendo bem forte – e ontem quando eu... Te
beijei, foi um descuido, e você fala essas coisas maravilhosas, e eu só estou
me controlando pra não te beijar denovo – abaixei o olhar novamente e ri baixo.
-
Gas... Eu não aceito
as desculpas por ter me beijado porque... – eu a olhei, quase tive um infarto
achando que ela havia ficado com muita vergonha por eu falar o que sinto e ela
não sentir o mesmo – Porque eu só aceitaria se eu tivesse achado ruim, mas
não... Porque toda vez que a gente se vê eu também sinto algo que me faz bem,
uma coisa muito especial, e aquele beijo me fez abrir os olhos, e me fazer
perceber que eu devo estar sentindo algo por você – ouvir aquilo foi como,
musica pros meus ouvidos.
-
É serio? – falei
segurando o riso, então sorri de orelha a orelha, não conseguia explicar como
eu estava feliz, ela me olhou e eu não conseguia parar de sorrir.
-
Sim... É sério – me
olhou e deu aquele sorriso lindo.
Respirei fundo ainda sorrindo, então eu pensei em beija-la e dei um
passo a frente, mas seria melhor perguntar antes, mesmo com vergonha, cossei a
cabeça e respirei.
-
Então, se eu fosse ai
e te beijasse você... Iria gostar? – perguntei, e eu acho que devo ter ficado
vermelho.
-
Sim, muito – respondeu
sorrindo.
Eu a olhei mais feliz do que nunca e seguro de mim, andei até ela,
peguei as partituras e deixei na mesinha, então coloquei minha mão no rosto
dela, já bem próximos, ela colocou suas mãos em meu rosto, nos olhamos por um
tempo e eu me aproximei mais até beija-la, daquela vez era um beijo combinado
digamos assim, e foi perfeito, e foi mais perfeito saber o que ela sentia por
mim, eu nunca havia ficado feliz daquele jeito, nem quando consegui a bolsa na
faculdade de New York.
Eu parei o beijo, nos olhamos e rimos, então comecei a acariciar o
rosto dela.
-
Nos conhecemos faz
menos de uma semana – ri, ainda acariciando seu rosto.
-
Sim, talvez não seja a
hora pra namorarmos ainda – riu me olhando, e ela estava mais do que certa.
-
E o que fazemos até
essa hora? – perguntei sorrindo.
-
O que você quer fazer
até lá? – sorri.
-
Podemos ficar
juntinhos, igual estamos aqui – ri, mas estava com medo da resposta.
-
Eu gostei dessa idéia
– nós dois rimos, e sabe quando você tira um peso das costas? Foi um alivio
ouvir aquilo.
Eu a abracei e ficamos ali por uns segundos. Eu tinha uma nova missão,
alias nós dois, nos conhecermos mais, mas aquilo seria fácil, eu queria vê-la
todos os dias, abraça-la, beija-la, era o que eu mais queria no momento.
Quando nos soltamos nos sentamos pra conversarmos, e conversamos sobre
muita coisa, nem vimos o tempo passando.
-
Olhe a hora, Lali está
chegando, preciso ir – falou olhando o relógio.
-
Eu te levo na porta –
sorri.
Nos levantamos e a levei até lá, abri a porta pra ela e ela saiu,
ficamos parados, não sabíamos como nos despedir, e eu decidi tomar iniciativa.
-
A gente se vê depois –
me aproximei e dei um selinho nela.
-
Tudo bem, tchau –
respondeu sorrindo.
Fiquei vendo ela atravessar a rua, até chegar em casa, ela me olhou e
acenei, ela acenou devolta e fechou a porta, eu entrei e também fechei a minha.
Depois de uns minutos bateram na porta novamente, quando a abri era meu
tio.
-
Não foi trabalhar
hoje? – perguntei confuso.
-
Horário de almoço –
disse ele sorrindo – posso entrar?
-
Claro que sim, a casa
é sua afinal – respondi sorrindo, e dando espaço pra ele passar.
-
A casa é sua, eu te
dei – falou entrando.
Eu fechei a porta e ele deixou a sua pasta em cima do sofá, então nos
sentamos e começamos a conversar.
-
E então, o que me
conta de bom? – me perguntou.
-
Se eu contar você não
acredita – balancei a cabeça rindo.
-
O que aconteceu? –
perguntou curioso.
-
Bom, nem sei por onde
começar... – ri - No mesmo dia que cheguei eu conheci a vizinha, o nome dela é
Candela, ela gostou muito de me ouvir tocar, e passou alguns dias, e aconteceu
umas coisas que depois eu te conto... Emfim, ontem, sem querer, eu... – ri
novamente, envergonhado - A beijei, e ela é uma garota bem tímida, então saiu
correndo. Ai hoje ela veio aqui e esclarecemos tudo e você nem imagina –
expliquei.
-
O que? – disse ele
ouvindo atenciosamente.
-
Ela disse que sente
coisas diferentes por mim – disse sorrindo.
-
Tá ferrado – disse
sério.
-
Porque? – perguntei
confuso.
-
A garota se apaixonou
– respondeu ainda serio.
-
Mas isso não é ruim,
eu também gosto dela – respondi.
-
Ah nesse caso... Mas
vocês já estão namorando? – perguntou.
-
Não, resolvemos deixar
isso pra hora certa e até lá vamos nos conhecer melhor.
-
Você está mais que
certo, boa sorte – sorriu.
-
Obrigada tio, e... A
propósito, eu preciso saber de uma coisa... Quando Cande tinha 12 anos ela e a
mãe dela sofreram um acidente de carro e a mãe morreu, e Cande sabe que isso
foi armado por Emilia Attias – percebi que quando falei esse nome meu tio ficou
preocupado – e Cande pesquisou sobre ela na internet e achou uma matéria que
dizia que essa mesma mulher matou Silvia e Pedro Dalmau, no caso... – me
interrompeu.
-
Seus pais – disse ele
num tom preocupado.
-
É, tio eu preciso
saber o que aconteceu com meus pais, por favor, não só eu como Cande também,
por que isso tem a ver com a morte da mãe dela, por favor, não fuja mais desse
assunto.
-
Eu sei disso meu
filho, já esta na hora de você saber de tudo... – ele respirou fundo e me olhou
– se a mãe de Cande for quem estou pensando, o nome dela era Julia.
-
Esse mesmo o nome dela
– confirmei.
-
Então... – respirou
novamente – sua mãe era advogada, como você sabe, e Julia era cliente dela, sua
mãe nem seu pai nunca me contaram exatamente o que, mas ela ajudou Julia a
tirar uma coisa muito preciosa de Emilia, ela ganhou a causa e ficou com essa
coisa, e Emilia ligava em sua casa jurando vingança. Emilia matou a mãe de
Cande, no dia seguinte quando sua mãe voltava do escritório com seu pai, já de
noite, Emilia os parou na rua e... – ele parou de falar e olhou baixo.
-
Fala tio, eu preciso
saber – falei pressionando ele.
-
Ela foi dar um tiro em
sua mãe, mas seu pai entrou na frente, o tiro o atingiu, mas mesmo assim Emilia
ainda atirou em sua mãe... – disse ainda de cabeça baixa.
Eu fiquei muito surpreso, triste, de saber que meus pais tinham sido
assassinados por ajudar alguém, fiquei bastante emocionado, respirei fundo e
voltei a olhar meu tio.
-
Então foi isso...? –
perguntei de cabeça baixa – É porque... Ontem Cande e sua irmã Lali vieram me
perguntar se eles eram meus pais e eu disse que precisava confirmar com o
senhor o que havia acontecido, foi daí que Lali foi embora e eu beijei Cande...
-
Eu sinto muito por não
ter contado, eu estava esperando a hora certa e acho que exagerei no tempo –
disse ele me olhando.
-
O importante é que
você contou tio – dei um sorriso pra disfarçar o quanto eu havia ficado mal.
-
Gas – ele colocou a
mão no meu ombro – não quero te ver mal, eu sei que é triste, mas foi há muitos
anos...
-
Eu sei tio, eu não vou
ficar mal, obrigada por me contar – sorri.
-
Não tem que
agradecer... Bom, agora eu tenho que ir.
Eu afirmei com a cabeça, nos levantamos e eu o levei até a porta.
-
Até mais – me abraçou.
-
Até – sorri.
Ele me soltou, saiu e se foi, fechei a porta e fiquei
atordoado com o que tinha ouvido, meus pais, assassinados? E eu precisava
contar aquilo à Cande.
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